segunda-feira, 12 de março de 2012

Um boi vê os homens ___________ Carlos Drummond de Andrade

Tão delicados (mais que um absurdo) e correm correm de um para o outro
lado, sempre esquecidos de alguma coisa. Certamente falta-lhes nãe sei que
atributo essencial, posto se apresentem nobres e graves, por vezes.
Ah, espantosamente graves, até sinistros.
Coitados, di-ser-ia que não escutam nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível e comum a cada um de nós
no espaço.
E ficam tristes e no rastro da tristeza chegam a crueldade.
Toda a expressão deles mora nos olhos, perde-se a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
Nada nso pêlos, nos extremos de inconcebível fragilidade, e como neles há pouca montanha,
e que secura e que reentrâncias e que impossibilidade se se organizarem em formas calmas,
permanentes e necessárias.
Têm, talvez, certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem perdoar a agitação incômoda
e o translúcido vazio interior que os torna tão pobres e carecidos de emitir sons absurdos e agônicos:
desejo, amor, ciúme (que sabemos nós), sons que se despedaçam e tombam no campo com pedras
aflitas e queimam a erva e a água, e difícil, depois disto, é ruminarmos a nossa verdade.